Nas décadas dos anos 30/40 do século passado, o aparecimento de uma Casa do Povo num meio rural, com serviços de saúde, era encarado como uma grande riqueza para as populações, numa época em que estas sobreviviam a grande custo. A fome a pobreza em geral, eram uma realidade, verificada através da elevada taxa de mortalidade infantil e juvenil. A instrução e a formação, eram um luxo a que poucos se podiam dar, sendo a taxa de analfabetismo muito elevada. A emigração, foi uma das saídas na fuga ao precário rendimento obtido do trabalho agrícola, a maioria como jornaleiros.
A agricultura era a base da economia dessas populações rurais e com os fins de previdência e assistência, instrução e progresso locais, o regime corporativista do Estado Novo promulgou o DL 23 051 de 23 de setembro de 1933, que autorizava a criação de Casas do Povo em todas as freguesias rurais. Os fins de previdência eram “obras tendentes a assegurar aos sócios proteção e auxílios nos casos de doença, desemprego, inhabilidade e velhice”.
Competia às Casas do Povo a “criação de pequenas bibliotecas e de escolas ou postos de ensino destinados a ministrar instrução aos sócios e seus filhos”, mas também incentivar aos desportos, diversões e cinema educativo. Também poderiam “acordar com os sócios, proprietários locais ou Estado, a realização de obras de interesse comum, especialmente abertura e conservação de caminhos, outras vias de comunicação, águas, esgotos, melhoramentos e aformoseamentos locais”.
Moradores das freguesias de Alvito S. Pedro, Alheira, Igreja Nova e Alvito S. Martinho, uniram esforços e acordaram constituir a Casa do Povo de Alvito. Esta, foi fundada a 14 de abril de 1944, pela intercedência de um grupo de “homens bons” de reconhecida idoneidade e interesse pelo bem comum, que se juntou para debater as necessidades do povo que vivia grandes dificuldades e que dependia da agricultura para sobreviver.
A primeira sede, situava-se no lugar de Rio do Porto, em Alvito S. Pedro, sendo uma casa de habitação cedida pelo Presidente da Comissão Instaladora Daniel Lopes de Miranda, com uma varanda, sala que servia para médico e enfermagem, quarto destinado a escritório e uma cozinha. Mais tarde, nos finais da década de 1950, a sede mudou para o lugar de Fontão, onde possuía melhores condições. A Casa do Povo era dos poucos locais onde poderia aceder a telefone, rádio e mais tarde a televisão. Também era usada para jogos de salão, como o ténis de mesa.
Em 1971, por despacho de 29/6 foram aprovadas Normas de Cooperação Médico-Social entre Casas do Povo e as Caixas de Previdência e de Abono de Família, sendo estabelecida “a coordenação e articulação dos diversos serviços de ação médico-social para utilização conjugada dos serviços e instalações”. Assim, os serviços de saúde e segurança social, como abono de família, reformas e descontos da SS, passaram a ser efetuados pela C. Povo.
Em 1971, com o assumir da presidência da Direção da C. Povo de Alvito, pelo Manuel Pinheiro Miranda, foi criada uma nova dinâmica e iniciou um movimento de recolha de verbas entre sócios e reformados, com vista à aquisição de terreno para a construção de uma sede de raiz, tendo negociado um terreno nas traseiras da residência paroquial pertença de José Arriscado Magalhães, que com o surgimento do 25 de Abril e os medos instalados, desistiram do projeto e do negócio, devolvendo as verbas aos doadores.
Como um empreendedor e inovador nunca desiste, em 1985, já acreditando nas mudanças fruto do 25 de Abril, surge a oportunidade de retomar o anseio da construção do edifício de raiz e através de um curso de formação profissional de pedreiros, em parceria com o IEFP/Câmara/C. Povo, num terreno que o presidente Manuel Pinheiro possuía, resolveram construir a sede da C. Povo e o Posto Médico. Em 1987 foi inaugurado o novo edifício e nele passou a funcionar o Centro de Atividades de Tempos Livres (ATL), que veio prestar um apoio social às famílias, que até então, não eram sonhadas.
Em seguida, surge um novo sonho, construir um novo edifício que englobe outras valências das áreas de infância e idosa e inicia reuniões com o C.R. da Segurança Social, com vista à obtenção de autorização e aprovação do projeto. Em 19 de Abril de 1997, o Presidente da Câmara Dr. Fernando Reis, lança a 1ª pedra para a construção da primeira fase do edifício. As novas instalações e Sede da Casa do Povo de Alvito foram inauguradas em 29 de Abril de 2001, com as valências de Creche, Pré-Escolar, ATL, Lar, Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário.
Esta IPSS, a comemorar os seus 79 anos de existência, direciona a sua intervenção a idosos, crianças, jovens e à infância, através das seguintes respostas sociais:
Centro de Dia – 15 utentes;
Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI) – 30 utentes;
Serviço de Apoio domiciliário – 21 utentes;
Cantina Social – 16 utentes;
Creche – 45 crianças;
Pré-Escolar – 44 crianças;
Centro de Atividades e Tempos Livres (CATL) – 62 crianças;
Ténis de Mesa – 52 atletas de diversas camadas da 2ª Div. Nac. M/F
Colaboradores – 55 e 8 prestadores de serviços;
A Casa do Povo de Alvito encontra-se localizada a 10 Km de Barcelos, num meio de índole rural, caraterizado por baixas reformas, poucos rendimentos e elevadas taxas de idosos em idade avançada e encontra-se localizada na zona de maior concorrência, sendo este um problema para a sua sustentabilidade. Possui uma horta pedagógica intergeracional e um mini-zoo, que são um dos elementos diferenciadores, que permitem aproximar cada vez mais a multiculturalidade e a interação entre gerações com idades tão distantes. Os serviços são prestados por profissionais altamente treinados e dedicados à prestação de serviços de elevada qualidade. Estes utentes, contam para além do pessoal direto, com o apoio de colaboradores especializados em serviços de enfermagem, médico, fisioterapia, animação, musicoterapia, psicologia, assistente social, dança, ginástica, etc. Temos um projeto de SAD, CD e ERPI para 32 utentes aprovado e candidatado ao PRR. Temos outra candidatura PRR para a eficiência energética do atual edifício, que contempla mudança de cobertura, de caixilharia e instalação de painéis energéticos. Com o apoio do BPI através de candidatura, vamos construir um jardim sensorial. Está em elaboração um projeto para a construção de um auditório, 2 salas de atividades intergeracionais e espaço de lazer para utentes. Aumentamos o acordo de SAD e vamos formar outra equipa, estamos a aguardar apoio camarário há anos, para adquirir carrinhas de SAD e Centro de Dia.
Globalmente, a Casa do Povo de Alvito é um polo de vitalidade e atração, sendo um dos maiores empregadores na localidade e, ao mesmo tempo, um dos maiores prestadores de serviços à comunidade. Quando estamos a comemorar o 49º aniversário do 25 de Abril, creio que todos vemos os frutos das mudanças que a Democracia nos trouxe, ao nível da Infância, apoio escolar, desporto, desenvolvimento, infraestruturas, qualidade de vida, apoio à velhice, deficiência e ao nível social. Como dizia um senhor nascido e criado nesta freguesia, que um dia se dignou contar-me como era a sua vida de jornaleiro nesta terra para manter a esposa e 12 filhos, lutando contra a fome, a prepotência, as diferenças sociais, o abuso e a falta de trabalho, este homem sentidamente transmitia-me “BENDITO 25 de ABRIL, tudo isto se alterou”!