Foto: António Cotrim / Lusa
O coordenador do plano de vacinação contra a covid-19, o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, defende o adiamento da toma da segunda dose para permitir a protecção de mais 200 mil pessoas até ao fim de Março.
“Está a ser estudado, a meu pedido, pela Direcção-Geral da Saúde e pelo Infarmed, se podemos alargar este período por duas semanas, de forma a conseguirmos antecipar a vacinação a cerca de 200 mil pessoas”, refere o militar em declarações no âmbito de uma audição na Comissão da Saúde, na Assembleia da República.
“É muito importante pelos 70% da protecção que pode dar“, justifica o vice-almirante, notando que “reforçar a vacinação uma ou duas semanas mais tarde praticamente não vai fazer grande variação no processo de defesa da pessoa que já foi vacinada com a primeira dose”.
“Quanto mais tempo se demora a alargar o prazo, menos antecipamos a vacinação de pessoas em maior risco“, diz ainda Gouveia e Melo.
O alargamento do período entre doses pode levar a que mais 200 mil idosos, com mais de 80 anos, sejam vacinados até ao fim de Março.
“Temos de estender para cem mil vacinas por dia num espaço curto, a partir de Abril”, nota o coordenador da task force criada pelo Governo para gerir o plano de vacinação contra a covid-19.
Actualmente, são administradas entre 40 mil a 70 mil vacinas por dia.
“Como militar, crio uma grande pressão”
Gouveia e Melo admite que podem vir a ser desviados 30% dos enfermeiros dos Centros de Saúde para centros de vacinação rápida, de modo a aumentar a capacidade de proteger as pessoas.
“Como militar, crio uma grande pressão” para obter respostas da DGS e demais autoridades de saúde, assume Gouveia e Melo, reforçando que “salvar vidas é o mais importante”.
O vice-almirante trata de elogiar a rapidez da DGS na forma como tem respondido aos apelos da task force e revela que a primeira pressão que exerceu foi relativa à distribuição das doses que sobram que, nalguns casos, foram desperdiçadas ou usadas para vacinação de pessoas não prioritárias.
Gouveia e Melo confirma também que estão previstas 2,5 milhões de vacinas no primeiro trimestre, 9 milhões no segundo, 14,8 milhões no terceiro e 9,5 milhões no quarto. Assim, a imunidade de grupo pode ser alcançada no início de Agosto, se não houver “limitações na administração de vacinas”, diz.
Gouveia e Melo destaca a importância da “antecipação da vacinação” também para cumprir a meta da União Europeia (UE) de ter 80% da população com mais de 80 anos vacinada até ao fim do primeiro trimestre.
“É um princípio bom: 70% de protecção é melhor do que 0% de protecção para 200 mil pessoas durante um período alargado”, salienta o militar, embora assumindo a incerteza actual na concretização deste objectivo devido à escassez de vacinas.
“É uma preocupação, não tenho a certeza de que vamos conseguir atingir o objectivo face ao número de vacinas que temos”, admite Gouveia e Melo.