
José Maria Ferreira – Diretor do jornal N Semanário
Um jantar de família com oito pessoas, no passado dia 4 de julho, esteve na origem de um novo surto da Covid-19 em Madrid. E este é já o quarto surto, desde que foi levantado o estado de emergência na capital espanhola, reporta o El Mundo.
O Presidente da República concordou, quinta-feira, que Portugal deve evitar um novo confinamento por causa da covid-19 no outono e inverno, mas advertiu que até lá não se pode descuidar o atual surto.
“Nós ainda não acabámos de viver um surto pandémico. É verdade que já se fala no próximo surto, mas ainda não saímos do atual. É bom que isso fique claro, que isto às vezes também é muito português: estamos a falar no segundo surto e ainda estamos no primeiro, ainda estamos com mais de 300 contaminados por dia no primeiro”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.
António Costa, Primeiro Ministro de Portugal, pediu, entretanto, responsabilidade máxima a todos, pois o país “não aguenta novo confinamento.”
Mas o que me faz então abordar este tema?
No passado dia 30 de junho de 2020, numa das maiores unidades hoteleiras de Esposende, reparei estar a decorrer um jantar/evento, com dezenas de convivas, sem que se respeitasse as normas exigidas pela DGS, que tem proibido ajuntamentos com mais de vinte pessoas.
O povo anda a facilitar, pensei, mas fiquei estupefacto quando vi quem eram alguns dos presentes…
Presentes estavam o responsável máximo pela proteção civil de Esposende, Benjamim Pereira, o presidente da União de Freguesias de Palmeira e Curvos Mário Fernandes, o presidente da direção dos Bombeiros Voluntários de Esposende João Nunes, da Cruz Vermelha de Esposende, Amélia Jorge, do Padre Cândido Sá e muitas outras individualidades de Esposende. Nem dá para acreditar.
Ou não nos apercebemos que o vírus já acabou, já à medicação disponível a todos e a vacina aguardada já está a ser administrada, ou então é um triste caso de «olha para o que eu digo, mas não para o que eu faço.»
Gostaria mesmo de saber o que estes defensores da moral e dos bons costumes, têm a dizer a todos aqueles que tiveram de adiar os seus casamentos, ou a todos aqueles que não puderam prestar uma última homenagem aos seus entes queridos. Haja decoro!
A moral desta história é que 21 pessoas em casa de um pobre, são uns criminosos, com falta de vergonha e respeito pelos outros, a brincar com o fogo e a colocar o bem-estar comum em risco. 100 ricos no restaurante de um hotel é algo natural, que cumpre todas as regras e normas estabelecidas. Deve ser pelo facto de o desinfetante utilizado ser de marca. Talvez da Gucci ou da Armani, digo eu…
Mas falando a sério, a avalanche de informação sobre a propagação do novo coronavírus, SARS-CoV-2, e a constante divulgação das medidas de prevenção do contágio, parecem não ser suficiente para que todos cumpram as regras à risca, de acordo com o comunicado do Conselho de Ministros.
A Ministra da Saúde, Marta Temido, lembra que “estão proibidos ajuntamentos com mais de 20 pessoas” e que o país ainda se encontra em estado de alerta. É obrigatório o uso de máscara nos espaços públicos fechados para todos os “cidadãos com idade superior a 10 anos” e quem não cumprir está sujeito a multas que vão dos 100 aos 500 euros. Já os espaços comerciais estão sujeitos a multas até 5.000 euros.
Apenas pergunto:
Como foi possível realizar este evento em Esposende, desrespeitando todas as recomendações da DGS, ainda para mais com gente responsável na área? Como vão agora estes responsáveis políticos e sociais, dizer às pessoas que têm de cumprir as normas?
A informação da DGS é clara:
Mantêm-se em vigor todas as regras emanadas em sede de Conselho de Ministros em que o máximo em caso de grupos são 20 pessoas (varia de acordo com a zona do país, mas para Esposende são 20).
Realização de eventos dentro de sectores da Economia, apenas devidamente autorizados pelas respetivas áreas do Governo. Todos devem seguir a etiqueta respiratória, a higienização de mãos e de espaços e utilização de máscara de acordo com os espaços e o distanciamento físico.
Não estão autorizados eventos sociais como festas ou casamentos. Os nubentes se quiserem realizar a festa de casamento terão de ser com o limite de pessoas já referido, de acordo com a Última Resolução de Conselho de Ministros, com máscara, com distanciamento físico, regras de etiqueta respiratória e higienização.